Um
brejo é algo muito importante. Mas pouca gente sabe disso, e se importa
com um brejo. Talvez só quem tenha bem gravado na memória algumas das
coisas que marcam muito quando se está perto de um brejo de manhãzinha,
ou num fim de tarde: a infinidade de grilinhos cantando, o ar mais frio,
o cheiro do mato e o escondido cantar das saracuras.
frango-d'água-comum. Foto: M. Eiterer
Grilos
e saracuras, pintos-d’água, japacamins, tesouras-do-brejo, e o nosso
endêmico joão-botina, sabem da importância do brejo, pois nele encontram
comida, cama e abrigo. Passarinhos de áreas mais secas, como os
coleirinhos e papa-capins, sabem que o brejo é importante pois, muitas
vezes, no fim da tarde, voam para eles, para dormir. Os
martins-pescadores e os socós, os frangos d’água, as garças, marrecas e
narcejas, sabem da importância dos brejos que, barrados, formam tantos
“tanques” na região de Viçosa, de onde tiram seu alimento, nos
“pesque-pague” ou na lama silenciosa, sob a proteção das taboas e outros
“matos”desconhecidos da maioria das pessoas.
Japacamin. Foto: Helberth Peixoto
Os
peixes, sapos, rãs, pererecas, cobras, e uma infinidade de outros
bichos, sabem da importância do brejo. O perfume do lírio-do-brejo sabe
que ele é importante pois ele e o brejo se casaram. A água sabe da
importância dos brejos, pois é nele, mesmo naquele mais pequenino, que
ela nasce, escorrendo devagar e silenciosamente, após merejar do solo.
Passa, rasa, por entre o intrincado de caules e folhas das plantas
aquáticas, forma pequenos córregos que se juntam em ribeirões, em rios
cada vez mais impressionantes para, finalmente, chegar ao mar.
Frango-'água-azul. Foto: Luiz Ribenboim
Apenas
as pessoas parecem não gostar do brejo, ou não lhe dar a devida
importância. Descuidam da terra que, implacavelmente, ano após ano, vai
escorrendo, a cada chuva, para dentro dele, deixando-o cada vez mais
raso e agonizante. Às vezes, com trator, aterram o brejo para lotear, ou
loteiam sem se preocupar com toda a terra que escoará para o brejo,
para o “progresso da cidade”. Soltam bois e cavalos neles, que os
pisoteiam com seus corpanzis, impedindo que o córrego se forme maior,
mais limpo e mais livre. Mas as pessoas não sabem, ou fingem não saber,
que cidade alguma sobrevive sem seus brejos bem cuidados e protegidos.
Porém, com a falta d’água em tantas cidades do sudeste do Brasil,
incluindo em Viçosa, as pessoas comecem a apreciar e valorizar mais seus
brejos, descobrindo que precisam tanto deles quanto os grilos, as
pererecas e as saracuras.
Sanã-vermelha. Foto: Jarbas Mattos
O
II Concurso de Arte da AVOA celebra as aves dos brejos da região de
Viçosa. E te convida a se juntar àqueles que já acordaram, lançando
outros olhares, e outros ouvidos, sobre nossos brejos, córregos e
ribeirões, para que aves e pessoas possam continuar vivendo.
Prof. Dr. Rômulo Ribon
(Laboratório de Ornitologia – Departamento de Biologia Animal - UFV)
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