sábado, 29 de agosto de 2015

Brejos são importantes

Aves que vão pro brejo...
jaçanã. Luiz Ribenboim
Jaçanã. Foto: Luiz Ribenboim


Um brejo é algo muito importante. Mas pouca gente sabe disso, e se importa com um brejo. Talvez só quem tenha bem gravado na memória algumas das coisas que marcam muito quando se está perto de um brejo de manhãzinha, ou num fim de tarde: a infinidade de grilinhos cantando, o ar mais frio, o cheiro do mato e o escondido cantar das saracuras.

frango-d'água-comum. Foto: M. Eiterer
frango-d'água-comum. Foto: M. Eiterer
Grilos e saracuras, pintos-d’água, japacamins, tesouras-do-brejo, e o nosso endêmico joão-botina, sabem da importância do brejo, pois nele encontram comida, cama e abrigo. Passarinhos de áreas mais secas, como os coleirinhos e papa-capins, sabem que o brejo é importante pois, muitas vezes, no fim da tarde, voam para eles, para dormir. Os martins-pescadores e os socós, os frangos d’água, as garças, marrecas e narcejas, sabem da importância dos brejos que, barrados, formam tantos “tanques” na região de Viçosa, de onde tiram seu alimento, nos “pesque-pague” ou na lama silenciosa, sob a proteção das taboas e outros “matos”desconhecidos da maioria das pessoas.
Japacamim. Foto: Helberth Peixoto
Japacamin. Foto: Helberth Peixoto

Os peixes, sapos, rãs, pererecas, cobras, e uma infinidade de outros bichos, sabem da importância do brejo. O perfume do lírio-do-brejo sabe que ele é importante pois ele e o brejo se casaram. A água sabe da importância dos brejos, pois é nele, mesmo naquele mais pequenino, que ela nasce, escorrendo devagar e silenciosamente, após merejar do solo. Passa, rasa, por entre o intrincado de caules e folhas das plantas aquáticas, forma pequenos córregos que se juntam em ribeirões, em rios cada vez mais impressionantes para, finalmente, chegar ao mar.
Frango-d'água-azul. Foto: Luiz Ribenboim
Frango-'água-azul. Foto: Luiz Ribenboim

Apenas as pessoas parecem não gostar do brejo, ou não lhe dar a devida importância. Descuidam da terra que, implacavelmente, ano após ano, vai escorrendo, a cada chuva, para dentro dele, deixando-o cada vez mais raso e agonizante. Às vezes, com trator, aterram o brejo para lotear, ou loteiam sem se preocupar com toda a terra que escoará para o brejo, para o “progresso da cidade”. Soltam bois e cavalos neles, que os pisoteiam com seus corpanzis, impedindo que o córrego se forme maior, mais limpo e mais livre. Mas as pessoas não sabem, ou fingem não saber, que cidade alguma sobrevive sem seus brejos bem cuidados e protegidos. Porém, com a falta d’água em tantas cidades do sudeste do Brasil, incluindo em Viçosa, as pessoas comecem a apreciar e valorizar mais seus brejos, descobrindo que precisam tanto deles quanto os grilos, as pererecas e as saracuras.

Sanã-vermelha. Foto: Jarbas Mattos
Sanã-vermelha. Foto: Jarbas Mattos
O II Concurso de Arte da AVOA celebra as aves dos brejos da região de Viçosa. E te convida a se juntar àqueles que já acordaram, lançando outros olhares, e outros ouvidos, sobre nossos brejos, córregos e ribeirões, para que aves e pessoas possam continuar vivendo.
                        

Prof. Dr. Rômulo Ribon
(Laboratório de Ornitologia – Departamento de Biologia Animal - UFV)



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