sábado, 19 de outubro de 2013

Aves, vidros e colisões: O que pensam os arquitetos?


Edifício sede da Procuradoria Geral da República. Vidros reflexivos. 500 colisões de aves por ano.

Aves não veem vidros

Uma vez ou outra trombamos com um vidro. Vidro é  invisível para nós, mas conseguimos encontrar um mecanismo para percebê-lo e assim evitamos o choque. Mas as aves não são hábeis para isso, sendo assim elas não veem o vidro como uma barreira e os choque são frequentes. A American Bird Conservancy estima que  300 milhões para 1 bilhão de aves morrem a cada ano vitimas de colisões com prédios com vidros reflexivos ou transparentes e janelas de casas.

Colisões de aves no Brasil

Aqui no Brasil  não existem muitos estudos sobre colisões de aves com vidros. Um estudo realizado em 2006, sobre o impacto da fachada espelhada do edifício sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília mostrou que lá ocorrem 3 colisões a cada dois dias e 1 morte a cada 3 ou 4 dias, são 500 aves trombando e mais de cem morrendo anualmente em colisões com o prédio. O edifício sede da Procuradoria Geral da República foi projetado por Oscar Niemeyer em 1995 e inaugurado em 2002. Então são 11 anos de funcionamento e 5.500 colisões e por volta de 1.100 aves mortas somente neste prédio. Um único prédio. Mas, devemos lembrar que algumas aves têm hemorragias internas e podem morrer longe do prédio algumas horas depois da colisão.

Arquitetura Amiga das Aves

Uma arquitetura amiga das aves é incentivada em algumas países para reduzir o problema. A solução é simples:reduzir a área reflexiva ou transparente do vidro ou não usar vidro. A medidas para isso podem ser caseiros, sofisticados, baratos ou caros, podem ser adotadas ainda no projeto de construção ou aplicadas mesmo em construções antigas. Um exemplo é o Kunthaus Bregenz na Áustria, onde o arquiteto  suiço Peter Zumthor usou vidro, mas preferiu vidros translúcidos, que deixam entrar luz dentro do prédio sem o perigo do reflexo ou da transparência.
Fachada do Kunthaus Bregenz, na Áustria. Foto Wikipédia.Detalhe do paineis de vidros translúcidos na faixada do Kunthaus Bregenz na Áustria. Foto: Wikipédia.

O que pensam os Arquitetos?

Entrevista com o arquiteto juizforano Guilherme Motta de Oliveira

Aves de Viçosa conversou com o arquiteto Guilherme Motta de Oliveira sobre o uso de vidros na arquitetura e para saber se os arquitetos, aqui na região, estão preocupados com o impacto do uso do vidro na arquitetura sobre a avifauna local. Guilherme Motta de Oliveira é arquiteto formado pela  Universidade Federal de Juiz de fora  e diretor da empresa AuE Soluções, que desenvolve softwares para paisagismo, como o PhotoLANDSCAPE®.
Aves de Viçosa: Prédios de vidro são uma marca registrada da arquitetura moderna. Por que usar vidro?
Guilherme: Antigamente as paredes tinham função estrutural, ou seja, ajudavam a sustentar a edificação. Com o concreto armado as construções não dependem mais das paredes, esta possibilidade trouxe o vidro como uma marca da modernidade e do avanço tecnológico. Antigamente não era possível construir um prédio com uma fachada de vidro.
Um fachada de vidro tem leveza e marca um prédio com um status próprio, normalmente é usada para caracterizar o prédio de uso comercial. A questão mais comum com um “prédio de vidro” está ligada ao conforto térmico, o ambiente fica mais quente nos dias quentes e mais frio nos dias frios. Então o uso indiscriminado de fachadas de vidro leva a necessidade de um sistema de ar-condicionado e aquecimento central que desperdiça muita energia para ser habitável o que atualmente não é recomendado. Estamos na era das construções ditas ecológicas onde a eficiência energética caracteriza a nova modernidade.
Atualmente as edificações mais “modernas” buscam um selo de sustentabilidade como o Green Building Council (http://www.gbcbrasil.org.br) e a conservação de energia é um dos quesitos principais.
Aves de Viçosa: O propietário que quer usar vidro na fachada precisa usar vidro transparente ou reflexivo?
Guilherme: Não existe regra no uso do vidro em fachadas, o vidro transparente tende a ser menos indicado, pois quem utiliza o espaço dentro da edificação quer privacidade. A não ser que o objetivo seja justamente a transparência, por exemplo, para uma loja de departamentos pode ser importante que as pessoas na rua vejam os produtos expostos no interior da loja. Ou em um restaurante, pode ser que a proposta seja justamente mostrar quem está no ambiente.
Além disto, as edificações devem mostrar sua finalidade este é o conceito de “arquitetura falante”, ou seja, basta olhar um prédio saber se é de apartamentos, de escritórios, um banco, uma igreja, etc. Assim o vidro é uma marca de determinadas finalidades de edificação.
Por outro lado, qualquer edificação é um consenso entre o arquiteto e o proprietário do imóvel. No caso de prédios, o empreendedor determina muitas características da edificação e a função do arquiteto é harmonizar os interesses do empresário, com as normas construtivas vigentes, o conforto das pessoas ao usar o espaço e a forma estética. Normalmente não são soluções simples.
Aves de Viçosa: Vidros são invisíveis para as aves. Prédios de vidro são uma armadilha mortal para elas. Os impactos negativos sobre a avifauna é uma preocupação dos arquitetos brasileiros?
Guilherme: Os EUA possuem muito mais torres de vidro que o Brasil, por vários motivos, até por uma questão de clima, no Brasil conseguimos construir um prédio que pode ser utilizado sem ar condicionado em muitas cidades, nos EUA, é muito mais difícil ou mesmo impossível, soluções de aquecimento e refrigeração muitas vezes são obrigatórias.
No Brasil os prédios de vidro não são tão comuns, mas existe o modismo e a mania de copiar as soluções estrangeiras. Normalmente o excesso de vidro não é indicado para nosso clima, mas o interesse de transmitir status tende a determinar a escolha deste material.
A região da Zona da Mata Mineira por outro lado é carente de profissionais qualificados. Ainda é muito comum que engenheiros civis e até mesmo técnicos em edificações realizem projeto de arquitetura o que deveria ser atividade exclusiva de arquitetos. Não é possível dizer que o uso indiscriminado do vidro seja responsabilidade dos arquitetos, mas com certeza o foco dos profissionais é no conforto humano, nos usuários das edificações. Impactos sobre a avifauna é uma preocupação distante e ainda de poucos profissionais.

3 comentários:

  1. Oi vcs podem me dizer q ave é essa? http://www.ninha.bio.br/biologia/aves/outubro/p21.jpg

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