‘Quando os elefantes choram: a vida emocional dos animais’ de Jeffrey Moussaieff Masson e Susan.MacCarthy é um livro que tenho na minha estante e que leio e releio sem nunca cansar. Um livro encantador. Transcrevo um trecho de uma das curiosas e belas histórias do livro.
“Nas montanhas rochosas, a bióloga Marcy Cottrel Houle estava observando o ninho de falcões peregrinos Arthur e Jenny, enquanto os pais estavam ambos ocupados em alimentar cinco filhotes.Um dia pela manhã, apenas o falcão macho visitou o ninho. Jenny não aparecia de forma nenhuma, e o comportamento de Arthur mudou consideravelmente. Quando chegava com comida, ele esperava no ninho, às vezes, por até uma hora antes de voar de novo e voltar a caçar, coisa que ele nunca tinha feito anteriormente. Várias vezes ele chamava pela companheira e ficava esperando pela resposta, ou olhava no ninho emitindo um piado de dúvida. Houle se esforçou para não interpretar aquele seu comportamento como expectativa e desapontamento. Jenny não apareceu no dia seguinte nem no próximo. Mais tarde, no terceiro dia, empoleirado no ninho, Arthur produziu um som não-familiar, “ uma espécie de grito de lamento de animal ferido, o grito de uma criatura em sofrimento”. Houle, chocada, escreveu: ‘A tristeza do clamor era inequívoca; após tê-lo escutado, eu nunca duvidaria de que uma animal pudesse sofrer emoções que nós seres humanos, achamos que pertencem apenas à nossa espécie’.
Depois do grito, Arthur se sentou sem se mover na pedra e não se mexeu por um dia inteiro. No quinto dia após o desaparecimento de Jenny, Arthur entrou em um frenesi de caçada, trazendo comida para os filhotes, da aurora até o pôr-do-sol, sem pausa para descansar. Antes do desaparecimento de Jenny, seus esforços eram menos desesperados; Houle nota que ela nunca viu de novo um falcão trabalhar tão incessantemente. Quando os biólogos subiram ao ninho, uma semana depois do desaparecimento de Jenny, viram que três filhotes tinham morrido de fome, mas dois tinham sobrevivido e estavam prosperando com os cuidados do pai. Mais tarde, Houle descobriu que Jenny provavelmente tinha sido morta por um tiro. Os dois filhotes sobreviventes se emplumaram com sucesso.
É impossível predizer o quão profundamente ficamos afetados quando morre alguém que nos é querido. Às vezes, as pessoas não mostram nenhuma reação externa, mas suas vidas ficam estraçalhadas. Elas podem não sentir nada de forma consciente, ou mesmo sentir alívio, enquanto internamente estão devastadas e podem nunca se recuperar. Os sinais externos de pesar dizem algo, mas podem não dizer tudo. A introspecção pode expressar algo, também, mas pode ser enganosa. Enfrentada com a tristeza humana nessa profundidade, a curiosidade cientifica deveria ser temperada com humildade: ninguém, certamente não o psiquiatra biológico (oferecendo pílulas para o sofrimento), pode falar com qualquer autoridade sobre a fonte, a duração ou a patologia tristeza. E uma humildade ainda maior é necessária diante das permutações do pesar e da tristeza dos animais.
Quando os não-cientistas falam da tristeza de animais, a evidência mais comum em que pensam é o comportamento que o membro de uma casal sente quando um deles morre ou vai embora . Esse tipo de pesar recebe atenção e respeito; no entanto, existem muitos pesares que passam despercebidos – a vaca separada de seu bezerro ou o cão deliberadamente abandonado. Existem também todos aqueles pesares que os humanos nunca observam: gritos nunca escutados antes na floresta, rebanhos nas montanhas remotas cujas perdas são desconhecidas.”
Referência bibliográfica
MASSON, Jeffrey Moussaieff & MACCARTHY, Susan. 1997. Quando os elefantes choram: a vida emocional dos animais. Geração editorial: São Paulo.