Papagaio-charão
O papagaio-charão (Amazona pretrei) é um dos menores papagaios brasileiros, uma ave típica do sul do Brasil, que ocorre nos estados do Rio Grande do sul e Santa Catarina. A ocorrência do papagaio-charão está intimamente ligada as populaçãoes de araucária (Araucaria angustifolia) do nordeste do Rio Grande do Sul e sudeste de Santa Catarina, pois o pinhão* é um dos seus alimentos preferidos. O estado de conservação do papagaio-charão é considerado vulnerável pela IUCN. O projeto Charão (ver também aqui e aqui) vem monitorando as populações do papagaio-charão de maneira sistemática por 23 anos (1991-2014), o projeto é conduzido pelos Amigos do Meio Ambiente (AMA) de Carazinho/RS e pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo (RS).Araucária
A araucária (Araucaria angustifolia) é uma das poucas gimnospermas que ocorrem no Brasil. Suas populações ocorrem no sul e sudeste do Brasil (Rio Grande Do Sul, Santa Catarina,Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio De Janeiro), Argentina e Paraguai. A araucária cobria boa parte da região sul do Brasil, no entanto a exploração da madeira e de suas sementes, o pinhão, reduziram muito sua extensão e consequentemente afetaram as populações do papagaio-charão.Estima-se que a extensão original da floresta de araucárias foi de 200.000 km ² e que tenha diminuído em mais de 97% no último século. O estado de conservação da Araucaria angustifolia é considerado criticamente em perigo pela IUCN. A extinção da araucária colocada em risco a sobrevivência do papagaio-charão, dentre outros animais.Defeso da araucária
Defeso é a paralisação em determinado período da coleta ou caça e comercialização de determinada espécie. O período de defeso da araucária é até 15 de abril, até essa data fica proibida a coleta e comercialização do pinhão. A Araucaria angustifolia é protegida pela portaria normativa DC 20, de 27 de setembro de 1976. A Portaria continua em vigor e não existe qualquer alteração em seu texto. Assim, a penalidade ali prevista somada à lei de crimes ambientais tem fundamento. Para alteração do período de colheita pelos municípios e estados deverá haver legislação federal autorizando a alteração do período de coleta e poderá seguir as características de cada região do país. Segue a portaria na íntegra:A PORTARIA NORMATIVA DC-20, DE 27/09/76
Proíbe o abate de Araucária e a colheita de pinhões nos meses de abril, maio e junho.
O PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DESENVOLVIMENTO FLORESTAL - IBDF, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 25 do Regimento Interno aprovado pela Portaria n.º 229 de 25/04/75, do Sr. Ministro da Agricultura e tendo em vista as disposições da Lei n.º 4.771 de 15 de setembro de 1965 e do Decreto-Lei n.º 289 de 28 de fevereiro de 1967; considerando a necessidade de se proteger as sementes do pinheiro brasileiro ( Araucaria angustifolia), indispensáveis para a produção das mudas e consequentemente preservação da espécie em face da crescente escassez de pinhões; considerando o procedimento danoso ao aproveitamento florestal das próprias sementes, através de costumes predatórios que necessitam ser rigidamente disciplinados, e tendo em vista que o § 1.º do art. 1.º da Portaria Normativa DC-10 de 20/06/75, torna obrigatória a reposição com a mesma espécie, no caso de exploração do pinho brasileiro (Araucaria angustifolia),
RESOLVE:
Art. 1º - Fica terminantemente proibido o abate de pinheiros adultos (Araucaria angustifolia), portadores de pinhas na época da queda de sementes, ou seja, nos meses de abril, maio e junho.
Art. 2º - Fica igualmente proibida a colheita de pinhão por derrubada de pinhas imaturas, antes do dia 15 de abril, data em que tem início o desprendimento das sementes.
Art. 3º - Fixar a data de 15 de abril para o início da colheita, transporte e comercialização do pinhão, quer para uso em sementeiras, quer para uso como alimento.
Art. 4º - A presente Portaria Normativa entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
PAULO AZEVEDO BURUTTI
Presidente
Campanha de conscientização
Neste ano a Associação Viçosense de Observadores de Aves (AVOA, Viçosa, Minas Gerais), em parceria com o Instituto Espaço Silvestre (Santa Catarina), estão com uma campanha de conscientização sobre o período de defeso do pinhão em prol da recuperação das populações de araucária. (Acompanhe a campanha aqui e aqui).Entrevista com Dário Lins, sobre o festival do papagaio-charão
Em 2012 foi realizado o I Festival do papagaio-charão em Urupema, Santa Catarina. Este ano o festival está na sua terceira edição. O objetivo do festival é festejar o papagaio-charão, despertar o interesse das pessoas pela conservação da espécie e promover o turismo de observação.Dário Lins
Dario Lins é observador de aves e fotógrafo de aves. Autor do livro 'Olhai as Aves do Céu - Registro Fotográfico da Avifauna - Serra Catarinense'. Seu trabalho já é bastante conhecido, uma vez que obteve diversas premiações em concursos nacionais de fotografia.Entrevista com Dário Lins
Fale um pouco sobre a cidade do festival, Urupema.D.L.: A cidade de Urupema está localizada na Serra Catarinense, na região mais fria do Brasil, no inverno os termômetros chegam a marcar por aqui -8ºC com a ocorrência de geada, neve e sincelo. A região é composta por várias fitofisionômias como: floresta ombrófila mista, florestas de araucária e campos de altitude, com vastas extensões com banhados e turfeiras. A presença marcante do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) proporciona belas paisagens e a escassez de outros alimentos faz do pinhão a única fonte de alimento para muitas aves e animais no inverno em especial os psitacídeos.
Como está a conservação do papagaio-charão na região de Urupema?
D.L.:Anualmente o Papagaio-charão (Amazona pretrei) migra para essa região formando atualmente enormes bandos, estima-se que existam hoje 30 mil charões. Há 15 anos atrás esse número estava bem reduzido, haviam menos de 5 mil charões na natureza. Mas o Projeto Papagaio-charão desenvolvido e mantido pela UPF - Universidade de Paso Fundo conseguiu com o monitoramento e ampliação das áreas de nidificação da espécie conseguiu aumentar significativamente o número de indivíduos. Apesar do sucesso a espécie ainda consta na lista como Vulnerável.
Por que fazer um festival para o papagaio-charão?
D. L.: Com o meu trabalho fotográfico na região, surgiu a ideia da realização do Festival do Papagaio-charão que têm atraído inúmeros fotógrafos, observadores, biólogos e ornitólogos do Brasil e do mundo para contemplar esse espetáculo único na natureza, pois, esta é a única oportunidade de se ver bandos de charões que cobrem os céus da pequena cidade de Urupema. Pois, assim que terminam os pinhões os bandos começam a se desfazer e os papagaios retornam para o Rio Grande do Sul para nidificar, dividindo-se em casais. O festival foi criado para festejar a visita anual dos charões e levar os apreciadores das aves a contemplar um espetáculo ímpar na natureza.
Quando será o próximo festival?
D.L.: O próximo Festival do papagaio-charão será nos dias 3 e 4 de maio de 2014. Toda a programação pode ser consultada no nosso pôster.
*O pinhão é a semente da araucária, Araucaria angustiofolia, uma gimnospermas.
Fontes
Angeli, Aline. 2003.Araucaria angustifolia (Araucaria). disponível em <http://www.ipef.br/identificacao/araucaria.angustifolia.asp>. Acesso em: 26/03/2014.BirdLife International 2012. Amazona pretrei. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 05 March 2014.
Mantovani, A. et al. 2004. Fenologia reprodutiva emAraucaria angustifolia. Revista Brasil. Bot., V.27, n.4, p.787-796.
Santos, Álvaro Figueredo dos et al. 2010. Cultivo da Araucária. Embrapa Florestas, Sistemas de Produção, 7 - 2 ª edição. Disponível em < http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Araucaria/CultivodaAraucaria_2ed/index.htm>. Acesso em: 26/03/2014.
Thomas, P. 2013. Araucaria angustifolia. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 26 March 2014.