Uma professora leva seus alunos para uma aula de ciências no jardim da escola:
– Olha professora! – exclama Júlio, chamando a atenção de todos.
– O quê? – pergunta a professora, tentando entender o motivo do alvoroço.
– Um passarinho de topete listrado! E um colar marrom envolto no pescoço. Que engraçado! Qual o nome dele? O que ele come, professora? – pergunta Júlio cheio de curiosidade.
A professora sabe as respostas, mas quer que seus alunos aprendam como chegar até elas sozinhos. Assim sendo, ela responde:
– Hum...Não sei! Mas vamos descobrir!
– Como professora? – pergunta Ana, pensando que a professora devia estar maluca (achar o nome de um passarinho!Eles. Impossível!).
– Vamos até a biblioteca – diz a professora.
Os alunos acompanham a professora até a biblioteca. Lá ela distribui vários livros para os alunos:
– Que livros são estes professora? Nossa quanto passarinho tem nestes livros! – diz André, atordoado com tantas figuras de aves.
– Primeiro não são passarinhos, são aves – diz a professora, muito séria – Os passarinhos estão só numa parte do livro e compreende a ordem dos passeriformes, ou os que tem forma de pássaros. Estes livros são chamados de guia de campo. Eles podem ser usados por qualquer pessoa, para identificar uma espécie, no caso, de ave. Existem guias de plantas, mamíferos, anfíbios...Este é um guia de aves do Brasil, tem todas as espécies de aves que ocorrem no nosso país. Existem também os guias regionais – explica a professora.
– Mas professora, são muitas aves! Como descobrir qual é o nosso? – pergunta Lucas, atônito com tantas figuras de aves para ver.
– No início do guia encontramos uma explicação de sua organização. O guia que estamos usando está organizado em grupos. Vamos dar uma olhada em cada grupo para descobrir em qual deles a nossa ave pertence.
A professora aguarda os alunos:
– Ele parece com os dois últimos grupos que estão no final do livro, professora! - diz Juliana.
– É isso mesmo Juliana! - exclama a professora, feliz com a resposta.
– Agora vamos olhar com calma as ilustrações da aves dos dois últimos grupos e ver se encontramos o que estamos procurando - orienta a professora.
Alguns minutos depois…
– Encontrei! – exclama Bianca, levantando o braço toda eufórica. – É um tico-tico. O nome cientifico dele é Zono...tri...chia ca...pensis. Que nome difícil!!!
– Isso mesmo Bianca! Agora que sabemos qual é a espécie podemos saber mais um pouco sobre ele. Os guias de campo já nos fornecem algumas informações. Por exemplo, aqui já ficamos sabendo que esta espécie ocorre em quase todo o território brasileiro. Agora vamos ver em outro livro. Um livro de ornitologia. Ornitologia quer dizer o estudo das aves. Aqui nós vamos procurar pelo nome científico da espécie: Zonotrichia capensis.
A professora aguarda ansiosa a pesquisa dos alunos. Alguns minutos depois a professora pergunta:
– Todos encontraram?
– Sim!! - os alunos respondem em coro.
– Então vamos ler o que o livro fala sobre o tico-tico – diz a professora.
– O tico-tico come sementes. Ele esmaga ou corta a semente com seu bico que é cônico, curto e forte – diz Angélica, toda séria.
– Muito bem Angélica! Mas, porque ele esmaga ou corta as sementes ele não é considerado um bom dispersor de sementes, como são os sabiás. As vezes podem comer insetos – completa a professora.
– O livro também diz que ele tem um canto bonito e para algumas pessoas seu canto quer dizer: ‘Maria acorda! É dia!É dia! – fala Júlio, achando graça do que acabará de dizer.
– Aqui também diz que os tico-ticos vivem em casais. E que o tico-tico defende furiosamente o lugar onde vive. Jovens tico-ticos estabelecem sua área com cinco até onze meses de vida, diz André.
– Olha só! O tico-tico constrói seu ninho parecido com uma tigela a poucos metros do chão, em arbustos ou sobre a vegetação quase rasteira. Os ovos são esverdeados salpicados de vermelho. E, ele gosta de viver em áreas rurais ,como a nossa, do que nas cidades. Veja só! – diz Lucas.
– Existem muitos outros tico-ticos diferentes, como podemos ver no nosso livro. Temos o tico-tico-do-mato-de-bico-amarelo, tico-tico-cantor, tico-tico-do-tepui, tico-tico-do-matão-de-bico-preto, tico-tico-rei, tico-tico-do-banhado, tico-tico-rei-cinza – completa a professora - Agora com todas essas informações podemos fazer uma consulta na internet. Vamos para a sala de informática.
Todos os alunos e a professorem seguem para a sala de informática que fica bem ao lado da sala de aula. Todos sentados diante de seus monitores, a aula recomeça:
– Muito bem… Vamos escrever no nosso buscador o nome da espécie: Zonotrichia capensis. Pronto. Agora achamos várias páginas que falam sobre a espécie e muitas fotos. Você reparem que as informações são muito parecidas com que encontramos nos livros e alguns textos dão como referência os livros que nós acabamos de ler.
– Nós podemos fazer isso com outras aves que vemos na escola, professora? – pergunta Júlio.
– Claro! Nós podemos até criar nosso próprio guia de campo para que os outros alunos possam consultá-lo no futuro.
– E como podemos fazer isso, professora? – pergunta André.
– Bem…na próxima aula eu explico, pois a aula já vai terminar – diz a professora, olhando para o relógio.
O sino toca. As crianças correm em disparada. Hora de voltar para casa.
M. Eiterer
Nota da autora: Nas escolas em que trabalhei o que mais sentia falta era de uma boa biblioteca. Nunca encontrei em uma biblioteca de escola guias de campo. Mas já presenciei crianças manuseando guias. Elas adoram. Não entendo por que as bibliotecas de escolas não são equipadas com guias de campo. Como as crianças podem conhecer suas aves locais? Para escrever sobre o tico-tico eu precisei ler. O livro que eu li está em "Fontes".
Fontes:
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
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